A novela da redução do pelotão
Na última sexta-feira, os principais organizadores de provas do ciclismo mundial (ASO, RCS e Flandres Classics), anunciaram que em 2017, o pelotão das Grandes Voltas seria reduzido de nove ciclistas por equipa para oito e nas clássicas, passariam de oito para sete.
A UCI foi apanhada desprevenida, mas não foram precisas 24 horas, para que chegasse a resposta do organismo que rege o ciclismo mundial. A entidade liderada por Brian Cookson, rejeita a alteração dos organizadores, abrindo mais um capítulo de disputa entre a UCI e a ASO (organizador do Tour, Paris-Roubaix, Liège-Bastogne-Liège, Vuelta entre outras), só que desta vez, tem o apoio da RCS (organizador do Giro) e Flandres Classics (organizador da Volta à Flandres). Esta aliança é poderosa e coloca a UCI numa posição frágil.
Como se passou?
No inicio deste mês, houve uma reunião do PCC (Professional Cycling Council) e o que é exatamente? O PCC, é um conselho, onde estão representadas todas as partes envolvidas no ciclismo profissional, ou seja, os organizadores de corridas, os corredores, as equipas e a UCI.
Nessa reunião, abordou-se este tema, mas nada ficou decidido, a discussão continuaria nas próximas reuniões. Porém, na última sexta-feira, os organizadores de corridas decidiram unilateralmente, impor a sua vontade, ao reduzir o número de corredores por prova.
As razões para tal decisão, segundo o comunicado, são duas: garantir maior segurança para os ciclistas, graças à diminuição do pelotão e tornar a prova mais difícil de controlar para as equipas, que com menos um elemento, torna a tarefa um pouco mais complicada.
A decisão foi rejeitada poucas horas depois pela UCI, que justificou em comunicado que tal decisão deveria ser retificada pelo PCC, estando isso descrito no livro de regras da UCI.
Porque é que a ASO, RCS e Flandres Classics, tomaram tal decisão?
Os jogos de poder no ciclismo já são habituais, com os organizadores, a UCI, os corredores e as equipas muitas vezes a tomarem decisões de forma a pressionarem as diferentes partes.
No caso do ciclismo, apesar da UCI ser a entidade máxima, a ASO é a que detém mais poder e a prova disso, foi a ameaça feita pela ASO há uns meses, onde ponderava a saída do World Tour de todas as suas provas, devido às reformas que a UCI pretendia implementar.
O poder da ASO advém do facto de organizar a maior prova de ciclismo do mundo, o Tour, que tem uma popularidade intocável, sendo o maior evento desportivo que se realiza anualmente. Além do Tour, a ASO, organiza a maior clássica, o Paris-Roubaix e a Vuelta. As restantes provas do World Tour são: Critérium du Dauphiné, La Flèche Wallonne, Liège–Bastogne–Liège, Paris–Nice e Tour of Qatar.
A ASO tem uma posição dominante, a UCI e as equipas, ao longos dos anos, foram tentado diminuir este poder, mas sem grande sucesso, hoje em dia as coisas neste campo estão inalteráveis.
Então, porque é que a ASO, RCS e Flandres Classics tomaram este tipo de posição? Porque estão apenas a olhar para os seus interesses e porque podem. As entidades organizadores procuram que as suas provas tenham espetáculo, para que isso atraia público e se isso acontecer, os patrocinadores e direitos televisivos vão render mais. No final das contas, tudo se resumo a dinheiro, como sempre, o ciclismo não deixa de ser um negócio como outro qualquer.
O que é que as equipas e os ciclistas dizem?
Vários diretores de equipas, já se manifestaram contra a medida tomada pela ASO, RCS e Flandres Classics. Iwan Spekenbrink, Richard Plugge e Jim Ochowicz, da Giant-Alpecin, LottoNL-Jumbo e da BMC, respectivamente, mostraram-se bastante desagradados com a posição de força tomada pelas entidades organizadoras das provas.
"Normalmente a UCI faz regras em que as equipas e os organizadores têm de respeitar. Agora os organizadores querem fazer isso. Num caso extremo, nós (equipas) podemos dizer: 'a camisola de líder na Vuelta é roxa em vez de vermelha'. Temo que brevemente, teremos um acordo para o número de ciclistas numa corrida" disse Iwan Spekenbrink.
"Contem o número de corridas que vamos com menos um corredor. Então teríamos menos 2 ou 3 corredores no nosso plantel de 2017. O total de custos desta decisão são talvez menos 19 postos de trabalho, até porque precisamos de menos mecânicos e soigneurs, por exemplo" disse Richard Pluge
"Não sou contra esta ideia, mas é demasiado tarde, para nós gerirmos a situação. Nós mal conseguimos fazer uma Grande Volta com 9 corredores, perdemos 1 ou 2 por Grande Volta, sinceramente não sei como passaremos com 8." referiu Jim Ochowicz
Em termos teóricos a redução ciclistas nas provas, seria uma forma das equipas reduzirem custos. Mas o problema que mais preocupa os responsáveis das equipas, é que as equipas foram construídas para 9 corredores em Grandes Voltes e 8 nas clássicas. O anúncio caiu que nem uma bomba no seio das equipas.
Outro facto que incomodou as equipas, foi o facto dos organizadores terem decidido unilateralmente, ignorando por completo os restantes membros da PCC.
Em relação aos ciclistas, oficialmente a associação (CPA) ainda não se pronunciou sobre este assunto.
Como será o futuro?
A posição das entidades organizadores é demasiado forte. A UCI apesar de ter rejeitado tal decisão está numa posição complicada, a ASO e aliados, têm uma posição forte.
As equipas pouco podem fazer, só se boicotarem as provas destas 3 entidades organizadoras, o que é altamente improvável e seria algo sem precedentes.
Conclusões
Na nossa opinião, a decisão é boa, as provas estão cada vez mais controladas pelas equipas e com menos corredores por equipa, a corrida será menos controlável e mais atacada. Um bom exemplo disso, é o Tour of Britain, onde as equipas apenas têm 6 elementos e habitualmente é uma prova muito imprevisível e onde o controlo da mesma é praticamente impossível.
No entanto, também achamos que a redução é curta, 1 corredor faz a diferença, mas não tanto, quanto se possa imaginar. O pelotão do Tour passará de 198 para 176 ciclistas.
Em relação à segurança, o mesmo se aplica, a redução em teoria, significará menor risco de acidentes, porém, não resolverá as quedas nos últimos quilómetros, quando há luta por posicionamento no pelotão, nas etapas planas.
Veremos como serão os próximos episódios.
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